segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Meu primeiro violão

Meu primeiro violão



Um Di Giorgio, comprado por minha mãe no super mercado Makro. Ela tinha adoração pelo Makro, lá fazia suas compras mensais e ao ver o belo violão, lembrou-se do meu aniversário e ganhei um ótimo violão de supermercado! Engraçado não é? Mas ela sem querer acertou no presente que hoje, por sorte divina, está no quarto do meu filho, também um interessado por música.

Meu pai era ótimo violonista, se orgulhava de ter tocado com Dorival Caymmi em Recife, aprendeu sozinho quando jovem ficou tuberculoso em um ano de cama! O gosto pela música era de Pai e Mãe, sempre tinha uma fartura de discos lá em casa, dos 78 rotações ao “long-play” de 33, os famosos bolachões. Minha Mãe se atualizava comprando vistosas vitrolas RCA Victor, Telefunken, Phillips e outras. Eu pequeno tinha um prazer de trocar de roupa (gravata borboleta) e ouvir Dorival “O mar quando quebra na praia é bonito... é bonito” Isso até cochilar sentado. Ouvia outros que gostava, Almirante com músicas curiosas “Faustina”! “Olha quem está no portão é minha sogra com as malas e ela vem resolvida a morar no porão "... Outra” "Atichim ( O coro dizia Deus te ajude ). Pelo costume de beber gelado apanhei um resfriado que foi um horror, porém com medo de fazer despesas eu com franqueza não fui ao doutor. E tudo o quanto foram me ensinando eu fui tomando e cada vez pior e quem quiser que siga o tratamento, pois se não morrer da cura ficará melhor “ A letra do “ P “ era ótima, etc... A música reinava lá em casa, tinha Noel Rosa cantado por Aracy de Almeida, que mulher feia... Ataulfo Alves, uma delícia. Meu Pai cantava umas músicas não comerciais que decorei e sei até hoje, com orgulho! E “Pesadas trevas”, de 1904, ??? Essa era cantada por minha Vó, decorei. Eu pegava tudo de ouvido e fui aprender a tocar violão. Meu Pai me ensinou o “Velho Marinheiro” um dedilhado fácil que ele garantia que na primeira aula eu já saberia tocar, era o otimismo em forma de gente! Quando já arranhava montei um conjunto com o Celso Fonseca, morador do Alto e lá descobri que como amador eu seria um sucesso, e resolvi me dedicar mais aos dribles infernais que aplicava nas peladas do São Bento, de bola era bom mesmo !

O tempo passou e a timidez chegou. Com uns 18 anos fui retornar às cordas e aprendi com o então Maestro Rildo Hora como se tocar bem um violão. Melhorei e acho que encantei algumas moças desavisadas, mais com os longos cabelos do que com a sonora viola de supermercado.

Mudei-me para Ipanema, ferrou tudo! Só tinha maluco por lá e acabei me enfeitiçando por uma moça muito louca, bailarina e cheiradora de cocaína. Conheci o Luis Melodia, figuraça, na época ainda ralando para ser conhecido “Eu quero é mel, eu quero mel... Quem tem tem quem não tem não se conforma... “ E Eu sabia das composições em primeiríssima mão pois ele morava com a irmã de minha namorada, éramos cunhados ! Gostava de tirar um som com ele. Lá na casa o Alto tinha umas festas animadas ( começava na 6af e terminava no Domingo! ), uma vez o Melodia foi prá lá e como estava uma noite linda de Verão e a galera "queria ficar a vontade", ficamos na grama, foi chegando mais gente e ali tocamos várias músicas do repertório do neguinho afinado. No dia seguinte papai perguntou “ Quem é aquele neguinho que tocava na grama? “ Ficou interessado pelo promissor artista. A casa era sempre musical, Vanuza esteve por lá várias vezes e não cantou o hino nacional ( graças à Deus ), Paulo Sérgio, Fábio com Stella :


"Stella
Em que estrela você se escondeu
Em que sonho você vai voltar
Quanta espera de você"


Era o maior sucesso ! Casa cheia, muita comida e bebida e músicos famintos tocando, tirando a barriga da miséria ! Minha Mãe não deixava prato vazio, arroz, feijão (ótimo) e galinha de cabidela (sucesso total), a música se respirava com muitos borrachudos (mosquito bravo de lá), Whiskys não faltava, boas gargalhadas e muitas visitas com os weimareners circulando livres, assim foi um tempo que me valeu e ficou aderido, que trás saudades musicais, me faz sorrir ao ver o baterista dos Rolling Stones com 69 anos e Keith Richards beirando os 70. Fui feliz com muito rock na cabeça e “ satisfaction “ na linda família Novaes, hoje resta um violão do Makro com um lindo filho dedilhando os ídolos dele : Mamãe sabia comprar violão !


Roberto Solano

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