sábado, 20 de novembro de 2010

O gosto por relógios

O gosto por relógios

Vem da infância solitária. Morava no meio do mato, tinha poucos amigos e quando escurecia nada muito emocionante a fazer... Vasculhava os livros e revistas de meu Pai, homem dado à leitura e gostava de mulheres nuas. Foi como a descoberta de um tesouro que, na parte alta do armário de seu quarto, descobri uma pequena montanha de revistas. Eram suecas e francesas, tinham campos de nudismo, algumas playboy importadas e a de Brigitte Bardot, meu primeiro alumbramento! Passei seguramente uma semana deslumbrado com uma deusa de carne clara e sardas no rosto, que mulher meus amigos. Voltemos aos relógios, vinham em revistas nobres os anúncios de Ômegas, Mido (muito afamado na época) e outras marcas de renome. Eu era solitário e passava o tempo vendo as duas maravilhas: mulheres e relógios. As propagandas me atiçavam, eram carros e homens bem sucedido com belos relógios, virava a página e tome de coelhinhas lindas e nuas, desejo carnal entremeados de relógios lindos. Fixei a imagem na minha memória infanto-juvenil, daí esse gosto até hoje pelas belas máquinas (com duplo sentido, por favor)
Aos 15 anos recebi meu primeiro relógio, um Tissot Visodate que trago até hoje comigo. Meu padrinho era rico e voltava da Europa com esse pequeno tesouro no bolso. Fiquei encantado! Vi pela primeira vez um relógio de revista! Maravilha! Estonteado fiquei e sonhava desfilar com ele no pulso em Cannes a procura da Bardot, loucura desfiada em horas de masturbação.
Percebo hoje o quanto me marcou aquelas revistas “secretas” e o valor real do proibido. Meu pai, um belo dia descobriu que tinha um sócio no paraíso dele e me chamou “Filho, essas revistas são suas! Vou assinar a playboy prá você com uma única condição: Quem tira o plástico sou Eu!” Tortura meus amigos, chegava a revista e ele deixava na cabeceira para abrir no fim de semana, um ritual, sentado na piscina (quando o sol aparecia), cachimbo na boca, o saco de fumo half and half a garrafa de uísque e pedia para eu buscar o gelo. Copo cheio, uma baforada e a sua unha fina cortava aquela camada fina e transparente que me afastava do prazer. Ficava ali sentado, dava umas braçadas na água gelada e esperava a hora de dar o bote! Ele folheava rápido, dava uma paradinha e abria o pôster, que maravilha! Destacava e me chamava “Filho, para a parede do seu quarto, essa merece!” Era a seleção. Eu tinha a parede do meu quarto toda colada de mulheres nuas, coisa de louco para aquela época, um sucesso com meus amigos, um Pai que era um homem sem frescuras e bem moderno para a época , minha mãe respeitava a minha individualidade, era feliz no Alto da Boa Vista.
Tinha uma mania de recortar propagandas de relógios, principalmente os que eram á prova d’água, achava que para ser importante e ter sucesso não bastava ter dinheiro, mulheres, sem um Rolex ou um Mido (The King of waterproof watchs) no pulso, meu Tio tinha um Mido Multifort, eu acha o máximo quando ele entrava na piscina com ele. Meu Pai tinha um Mondaine com alarme que ele usava sempre, um dia coloquei o bicho dentro da banheira! Achava que se era de meu Pai tinha que resistir a tudo! Ele era meu ídolo e super herói! O relógio pifou é claro... O velho mandou consertar reclamando da chuva forte que tomou naquele verão, fui salvo pela Mãe natureza, e ele morreu sem saber dessa travessura, acho que ele iria dar uma boa gargalhada e dizer “Filho, com tanta mulher boazuda você foi perder seu tempo com relógio?” O velho era bom papo, bom de estórias, cachimbo e whiskys. Tenho saudades dele e de Miss November, a minha preferida da parede do quarto...

Roberto Solano

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