quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Brizolinha

Brizolinha

Na minha juventude eu era tímido, criado no mato e depois removido para Ipanema dos loucos e avançados rapazes, moças e veados. Pirei. Fui me adaptando e me enturmei com uma galera mais “ligth” que freqüentava outras” praias”, menos avançadas e mais adaptadas a minha quietice. Nisso fiquei com os amigos Lulu, Jorginho das bocas, Aluizinho e outros do Flamengo e adjacências. Jorginho, mais descolado, sempre otimista e topando tudo. Tinha uma Rural que fazia a festa da turma nos finais de semana, e avançávamos para além túnel Rebouças, zona norte, aonde éramos reis! Nada como ser garoto zona sul naqueles tempos, tínhamos até uma rede de vôlei na praia de Ipanema, sucesso total, mas não pegávamos nenhuma gatinha de Ipanema, elas eram muita areia para o nosso caminhão (ou melhor, rural) e só fazíamos pose na praia, pegando uma cor e rumando para a zona norte.
Certa feita o nosso ídolo espiritual e cachaçal, Jorginho das bocas, descolou um apartamento em Araruama, quarto e sala, de uma tia velha. Os tempos eram bicudos e não havia grana prá nada, só para uma cerveja gelada com conhaque, ovo colorido e entrar de penetra em alguma festa “maneira” no Méier, tijuca ou santa Tereza (meio caminho do sul ao norte). Uma viagem para uma praia, com apartamento “free” era um sonho ! Eu não sabia que Araruama era Araruama, entendes? Ir para o lado de Cabo frio já era um luxo só. Fomos!
Jorginho tratou de convidar “as “ meninas “, tudo gente fina, que vinham da barreira do Vasco, uma favela de São Cristóvão, aonde o nosso herói era gentilmente chamado de “ Jorginho das bocas “, tratamento fino para um cliente zona sul. Embarcamos na rodoviária , “ ele “ apareceu com uma linda gatinha “ falssiê “ , toda na moda , linda, cabelos de fazer inveja às riquinhas do Leblon, mas pobre e carente... As amigas já não eram assim tão gostosas mas davam pro gasto, meio brega mesmo, cavalo dado não se abre a boca, não é ? E tinha uma morena jambo, boazuda, carnes fartas e peitos maiores, coxões invejáveis, vamos chamá-la de Tânia ( um nome chic na época ! ). Lulu gamou na peça e eu fiquei com a loura oxigenada,Ruth, tudo bem, vamos para Búzios ! Que nada, Araruama...
As compras feitas : cerveja, miojo e só ! E basta, o resto compramos lá. Mochilas nas costas e entramos no Ônibus rumo às magníficas praias do litoral norte fluminense. Um pacote branco me chamou á atenção, um conjunto de panos brancos e uma bolsa azul de plástico, nas mãos da adorável morena-jambo. Seguimos viagem até o “pacote” acordar ! Hem, hem... Fraquinho, depois aumentou Heeeeeem, heeeeem, mais forte , até o famigerado Búaaaaaaaaaaa !!!! O pacote tinha fome e queria mamar ! Brizolinha explicou a fartura dos seios da morena e a cara de espanto do seu acompanhante, um bebê em nossa adorável viagem ! Susto geral ! A mãe sacou os mamilos marrons maiores que já vi, um sapoti, e sapecou na boca do moleque bem tostado de natureza, morenão quebrando as asas para um negão, bonito e forte. Mamou que era uma beleza ! A Mãe colocou a cria no final do ônibus, que tinha aquele banco integral e confortável e voltou para a se esfregar em Lulu que gostou muito da comissão de frente da cabrocha, estava feliz, e brizolinha também ! A viagem foi boa, até um cavalo adentrar a pista, que susto! Alías dois. O motorista deu uma freada grande e os passageiros se assustaram, nada de mais, graças a Deus, o motorista ia retomar sua marcha quando pisou em algo estranho, Búaaaaaaaaaaa, búaaaaaaaaaa. O brizolinha tinha rolado do fundo até a frente do ônibus, quase vazio, Rio-Araruama, 15 cruzeiros novos, direto. Levou um susto e pegou o “pacote” nas mãos e alto chamou:” Quem é o responsável por essa criança? “ Búaaaaaaaaaaa, búaaaaaaaaaaaa, brizolinha acordou, estava com fome, tadinho. A mãe apareceu e resgatou aquele tubo branco, um O.B. de Itu, com um menino dentro,entalado, agradeceu e seguimos viagem.
Araruama, praia? Lagoa ? O que é aquilo? A largura da areia de 2 m, a pista da BR passando do lado, a água parada e mais salgada que bacalhau seco, uma verdadeira desgraça, mas de graça ! Chegamos ! Já que a praia não era convidativa, que tal as meninas ? Fomos para o amplo quarto e sala da Tia, outra bosta ! Combinamos, 2 horas por casal, uma voltinha na praia e uma trepadinha, rodízio perfeito até o nosso pequeno político começar a berrar, muito, que sufoco, não dava prá trepar no quarto com aquela cuíca desafinada na sala. Búaaaaaaaaaa, búaaaaaaaaaaaa, merda ! Fomos socorrer a criatura, tiramos a fralda e descobrimos a maior assadura que já vi na vida! A carinhosa mãe não limpava os “possuídos” do neném, era carne viva, os olhos mareados do futuro traficante dizia tudo, dor, muita dor! Fomos á luta: Pomada minâncora, que tinha trazido para o meu branco e pontudo nariz, o bichinho chorou e desmaiou, uma boa mamada e três fodas, das boas, Lulu deu...
Na volta a Mãe de Lulu viu a pequena criatura nos braços da sambista e declarou : “ Meu neto ! “ Foi amor á primeira fralda ! E tratou de brizolinha com afeto e amor, o bicho engordou uma semana (tempo da boa moça resolver umas paradas lá no morro ), lindo, brizolinha estava um brizolão, gordo, saudável, sorria prá todos, um CIEP, que beleza! Meu nariz era um tomate de vermelho.
Concluí que morar na zona sul faz um bem danado para assaduras e que a vida no morro
não é mole não...

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