sábado, 2 de junho de 2012

Um só


      
                                                   Um só


    Temos, por simplificação e desejo, o costume de querer tudo concentrado em um só. E isso é propagado pela vida. A Mãe é única, certo! O Pai talvez... O resto é convenção. Meu único amor e eterno! Desejo de todos e objetivo de uma mente educada para ter a unidade: meu melhor amigo, meu tio preferido, a mulher mais gostosa, meu ídolo, etc... Temos obrigatoriamente que eleger o “único!”, por quê?
    Eu sou Flamengo e não posso gostar de mais nenhum outro clube, certo? Sou macho e não posso admirar outro... Certo? O mais rico do mundo, o melhor, Jesus, Buda, e tudo se concentra em um só. Cansativo...
    Agora quero ser plural! Pensar em tudo com a opção de gostar do outro, de ter escolha, de mudar de caminho, de ser uma metamorfose ambulante, poeta e descrédulo. Firme certeza que posso mudar, como minhas células, meus desejos se vão e vem. E aí? Você já pensou sobre essa competência? Já viu o amanhã como uma redescoberta do mundo? Ele não muda, mas tua cabeça pode. Tentar é o caminho! Esquecer certos ensinamentos que te embutiram desde tua infância: meu super-herói preferido, minha boneca, meu cachorrinho ou minha gatinha mimi. Tudo um só banhado pelo aplauso de teus ídolos (pai e mãe). A vida simples no objetivo estruturado no único. Teu pai ficou feliz com tua nota baixa? Você foi aplaudido e melhor aluno? Chato isso. Que tal ser mais um, um a mais no todo que se move? Sem o castigo de ser o único?
     Dói saber que somos o que somos e nunca o que deveríamos ser. Rico, poderoso, bom pai, herói, vitorioso, exemplo. De que? Tudo uma descoberta tardia, estamos aí nas ondas de um mundo louco, com muito medo. Como ser o único?
      Dá para sentir o tempo te consumir? Ou vais continuar achando que teus ídolos são os mesmos? Está difícil de aturar o novo: estás velho! Sem saída e o único só tem questionamentos. Hoje dizem que Pelé não é mais o Rei do futebol. Só sobraram fantasmas que acreditamos neles como ainda acredito na mula sem cabeça e nos Rolling Stones. O último é real e existe firmemente na minha cabeça. Só.
             Hoje tento amar tudo dobrado, triplicado, multiplicado. Será inteligência? Ou uma forma de sofrer menos? Querer um só é o caminho direto para a perfeição: dor. Fujo dela e quero perdoar meus heróis por serem únicos e impotentes. Dos gênios me afasto, dos mais eufóricos também. Chato estou por ser o único a pensar que nada é único e permanente.
     Então me calo.
     Não falo só.
     Um só.
     É nada.


Roberto Solano

                                       

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