segunda-feira, 8 de abril de 2013

E me calo com a boca de feijão


E me calo com a boca de feijão

 Todos os dias temos que sonhar, é regra, é saudável. Todos os dias temos que admitir que somos fracos ou não fortes o bastante para realizar tudo que queremos, constatação. Sonhar e pisar na terra firme, viver com o que temos, e ser feliz! Difícil? Talvez...
 E agora, em que sonhar? Em não sonhar? Essa é a pior das soluções, abandonar o barco, deixar de remar, ficar triste no viver. Tem tanta gente que não sonha, ou não sabe, ou não entendeu o verbo “sonhar” na sua mais pura verdade: ser irreal! Sempre devemos sonhar com o impossível, como o som do mais louco rock da tua juventude, nas alturas; depois vir a baixar o volume devagar, trocando o foco, passando para um James Taylor ou um Cat Steven; e ainda mais se deixar levar por um bolero, corpo mole, sonhando... E acordar na realidade dura da tua escrita, tua vida limitada em ti mesmo, teu teto de vidro (todos temos), comer teu feijão diário.
 A vida se faz de pequenos momentos que geram grandes emoções, sem nunca perdermos o foco das coisas mais simples, no arroz com feijão, no ovo frito, na média com café quente, cerveja gelada, e alegrias tolas. Sempre com a mente aberta em ver o que não vemos nunca: o poste, o passarinho depositado no fio esperançoso, a mulher grávida alisando a barriga, o velho que passa em passos decorados rumo à padaria, o gato no muro e o cachorrinho da porta velha, a dormir e sonhar... Sonhar requer espaço! Na tua cabeça, meu rapaz, na tua alma ingênua. Viver do nada para o tudo, desafios nas mãos guerreiras, calos virão.
 E agora? Vamos dividir? Vamos somar? Qual a melhor matemática para a tua felicidade? Amar é um bom caminho, e desejar o que não tens é bom! Cuidado com teus pés, tua base de tudo pode escorregar nos teus pulos, tuas arrogâncias, tua fome do hoje. Pare e pense. O dever de sonhar é alimentado pelo feijão de cada dia, feito na melhor das panelas, na certa pressão. Apimente teu paladar e crie teu horizonte, viva a graça do cotidiano, seja um pouco peão e um pouco doutor, com Chico e em Chico, Buarque-se!

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