segunda-feira, 15 de julho de 2013

As aventuras de Dona Gilda em Paris

                             


                                                                        As aventuras de dona Gilda em Paris


       Amigos, toda viagem tem paisagens, sabores e pessoas. Eu curto muito ver pessoas e, se possível, interagir com elas. Entendam que esse “interagir” pode ter lado bom e um lado ruim também! Temos os chatos, os larápios, os mendigos e outros mais. Garçom é sempre lembrado! Em Florença fui a uma cantina que o rapaz chegou dizendo “falo Italiano, inglês, espanhol e francês!” Eu senti firmeza e fui direto ao Inglês” macarrônico”, que é o melhor em terras de boa massa. Bem, no final da excelente refeição eu “futuquei o cidadão” com o famoso” Parlez vous français???” e a resposta veio frágil” un peu” com um leve tremor nos lábios... Ele não falava nada! Italiano é sempre italiano: dono do mundo! Você aí não fala italiano? Prego prá você! Estás fora de moda e não entendes o verdadeiro sentido da vida: amar loucamente, se vestir sempre na moda e comer sem medo de ser feliz! Entendeu? Não se esqueça da “La Mama” que é o centro do universo! Viver a vida de forma italiana é arte, e é assim como os argentinos (mais pobres) que são verdadeiramente felizes! Foda-se o mundo! Entendeu? “Viva l'esercito delle Crociate Brancaleone” ou “El Boca Juniors es el mejor equipo de fútbol en el mundo!”.
      Voltemos pra Gilda. Uma mulher com menos de 1,5 m de altura (isso não é medida, é hora! Diria uma amiga sábia!). Não a medi e fui “gastar” meu francês com a dita cuja criatura no pequeníssimo elevador do hotel, em Paris. Ela ali, falando em francês legitimamente aprendido no “Colégio Sacre-couer- de- Jesus” ou de Marie; eu com meu do São Bento. Ela firme perguntando “Est-ce votre primiére fois ici?“ E eu pasmo... Senti que a meia-pessoa era brasileira e respondi: “podemos falar em português!” Ela disse” Je prefer le français!” Gostei da moça (80 anos!) que gostava um pouco da língua esquecida: o francês! Eu com quase 60 anos aprendi a “tal língua dos inteligentes” quando menino, nas duras mãos de um professor terrível. Agora vejo o tempo perdido... Fui péssimo em inglês (o professor era ruim e fanho) e melhorzinho no francês. Hoje somos uma exceção! Quem fala francês aí? Sou velho (concluí) e Gilda também! ERRADO !!! Gilda era “o cão com a dor e a dor doendo”, vivaltina com olhos enormes em lentes que os ampliava ainda mais, entendeu? Gilda, a pequena mulher, estava no mesmo hotel em Paris, com a sua pequena irmã, espertíssimas!
      Bem, para encurtar: Gilda sabia de tudo! Café da manhã: vá à padaria do “Paul” e faça a festa! Liquidação? Ora, hoje começa! disse Gilda, toda arrumada e perfumosa com sua sacola do lado, saindo cedo “vou chegar quando começar!”. Eu não sei o motivo mas todo dia que saía do hotel esbarrava com ela. Descobri que esse hotel (no coração do bairro Saint Germain) é fantástico para gente velha! Um passo você está no metrô! Espirrou? Está na melhor farmácia de Paris, do lado no ponto de ônibus (Gilda adora a linha 70), Fome? 100 bistrôs ali, na porta... Uma comprinha? Um shopping na frente... Nossa, eu entendi a alegria de Gilda: falar Francês e curtir o que há de bom em Paris: flanar, sentir-se leve, viver o que há de bom na vida! Viva Gilda e sua irmã, que como eu, pretende todo ano voltar para Paris (no verão) e viver uma vida que não existe mais... Sim ela insiste em entender o mundo de forma mais calma, inteligente, na discussão, em conversas sem fim sobre o destino da humanidade, tomando um café ou uma “perrier citron”, gastando o tempo, tal Simone de Beauvoir... Essas pessoas são únicas no valorizar a vida. Paris, Praga, Bariloche, Rio de Janeiro são cidades comuns, sem Gilda, com ela tudo melhora!
    Vivam Gildas! Essas mulheres sábias, que com a possibilidade infinda da felicidade de poderem viajar, escolheram Paris para gastar o tempo, e, em “Saint Germain dês Près,” isso ainda é possível! Viver uma velhice dinâmica com o tempo a seu favor, na cidade luz, que entende e aceita a alegria dos mais velhos! Salut!

Roberto Solano

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