sábado, 10 de janeiro de 2015

Zé Arruela



Zé Arruela

 Sempre fui cauteloso na direção. Quando jovem dei umas batidas inaugurais sem maiores gravidades até que meu irmão entrou em um poste na Av. Vieira Souto (muito chique) e se quebrou todo... Até hoje ele diz retirar cacos de vidro do rosto. Passei a ficar velho e mais comportado ainda! Vamos aos fatos:
 Recife, verão e transito confuso. Os pernambucanos são os paulistas do Nordeste: se vestem bem, tomam Uísque escocês e tem carros grandes; podem estar duros em casa, mas jamais na rua! E são ricos nas aparências, as madames com “chauffeur”, os garotões com carros poderosos e as peruas de SUV, ninguém anda de ônibus, só pobre! Andar de taxi é coisa deplorável ou uma emergência a ser devidamente justificada a posteriori! Tradições...

 Lá vou eu, em meu caminho, desviando dos malucos: lá não “rola” esse negócio de “dar seta”, macho é macho e pronto! Entra da esquerda para a direita e vice-versa sem maiores considerações; e você, caro leitor que está na direção, que se vire! Passa na sua frente um carro desvairado e um filme na sua cabeça “não foi dessa vez...” Coisas da terrinha. Em frente ao hospital Português tem um cruzamento em que você tem que fazer um malabarismo de se deparar com os “inimigos” (carros na contramão) de frente! Coisa de louco! Para depois entrar à direita e dobrar para o estacionamento do hospital. Eu fiquei com medo de bater o possante veículo da minha sogra em algum “inimigo”. Parei. E os carros passando na minha frente... Uma forte buzina ouvi na traseira, outra, mais outra...

- Zé Arruela !!!!

 Fui batizado pelo meu adorável cunhado! Era ele, que depois falou: “Tinha uma abestalhado no transito que me fez atrasar... Um Zé arruela! FDP!” Opa! Sou eu, meu cunhadinho. Ele ria e ainda disse “bem que eu desconfiei, você é um roda presa mesmo!” Que situação...

 Outra cena: véspera de Natal e a adorável incumbência de ir comprar tira-gosto e vinhos na Casa dos frios; quem é de lá sabe a delícia que é ver a disciplina, educação e organização das madames e seus motoristas com vários acepipes e perus nas mãos. Não estava dirigindo (graças a Deus) e sim a minha sobrinha afoita e desbocada. Ali ela estacionou na vaga dos deficientes:

- Querida, não pode parar aqui...

- Frescura Tio, vá comprar que eu fico no carro, se aparecer um perneta te aviso e tu voltas mancando, avia sô, avia...

 Sai no calor e a moça ficou ouvindo música brega, no Whatsapp com o noivo. Voltei suado com as mãos ocupadas e o bolso vazio (o povo de lá só gosta do bom e do melhor e eu tenho que comparecer), e o carro foi acelerado em uma marcha ré afoita.

- Cuidado querida, tem um caminhão aí atrás...

- Frescura Tio, tem que “emburacar de vez” se não não vamos sair daqui...

 E tome de buzinadas, meu coração abatido já quase enfartando... Passamos da primeira fase do jogo: a marcha ré! Entramos na 2ª que era voltar prá casa, ela acelerou, cortou para direita e num lance cinematográfico entrou à esquerda na frente de um ônibus. Sabe aquele barulho de freio de lona vencido? Uhhhhhh, ziiiiiiiii, riiiiiiii, fuuuuuu. Fudeu! Pensei eu já enfartando, ela me viu lívido e disse:

- Segura o Cú Tio Beto, segura o cú !!!

 Amigos, eu passei a usar a tática infalível do Piu, piu, piu... Não conhece?

- Piu, piu, piu

- Porra Tio, que merda é essa ???

- Piu, piu, piu

 Eu já piava bem alto, suando frio e rezando... Piu, piu, piu...

- Para tio! Que coisa chata!!!

- Piu, piu, piu...

 Ela parou o carro, com aquela freada que tua cabeça vai prá frente e o rabo prá trás, muito mais emocionante que montanha russa.

- Explica aí o porquê desses PIU !

- Querida sobrinha, tinha uma amigo meu que, ao pegar carona morreu sem dar um PIU !!!!


 Ela ficou com pena e voltei pra casa, todo cagado...

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